domingo, 15 de novembro de 2015

Avaliograma

Uma opção de avaliação mediadora

RESUMO
Este trabalho apresenta reflexões sobre a avaliação nos dias atuais embasado em teóricos com vasta obra no assunto complementados por comentários dos próprios alunos sobre a experiências com a ferramenta Avaliograma em sala de aula. Em seguida é mostrado como o projeto se aprimorou desde 2009 e ainda como tem contribuído cada vez mais para a melhoria do desempenho, da aprendizagem e do interesse pelas atividades propostas.

Palavras-chave: Avaliograma, tarefa, estratégias avaliativas, avaliação da aprendizagem e avaliação formativa.


  1. INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta os resultados de um Projeto de Avaliação desenvolvido nos componentes curriculares de Ciências e Biologia em uma escola particular da cidade de Araçatuba, SP o qual teve inicio a partir das seguintes problemáticas: como melhorar o cumprimento de prazos das atividades propostas e criar uma maneira que os alunos e seus responsáveis pudessem acompanhar mais efetivamente a vida escolar de uma forma simples e precisa (HOUSE, 1978).
O ritmo cada vez mais acelerado da produção de informações faz com que os estudantes sejam cada vez mais exigentes no que se refere a diversos processos educativos e entre eles está o processo avaliativo. Dessa forma, para que uma avaliação formativa seja incorporada ao dia a dia da sala de aula de maneira efetiva e democrática não basta que o professor faça o registro do desempenho do aluno apenas para si, é essencial que ele mostre ao aluno como este está sendo avaliado durante um determinado período (ALAVARSE, 2013). Foi neste contexto que surgiu a ideia de se elaborar uma folha-controle que receberia as pontuações e menções de todas as atividades, bem com os instrumentos de avaliação utilizados e as tarefas passadas como dever de casa (RESENDE, 2008). Esta também poderia ser consultada a qualquer momento pelo professor e pelo aluno. Mas não com o objetivo de criticar e sim de investigar juntos e fazer uma reflexão acerca do processo de avaliação na qual o aluno seja coautor de sua própria avaliação e possa, já que conhecerá a forma que sua nota final será construída, intervir nela (ROBSON, 2011).
Com o resultado de cada instrumento de avaliação disponível para a consulta, o aluno e o professor poderiam se focar em uma determinada habilidade que apresentasse dificuldade e tentar juntos melhora-la antes do “fechamento” da média (MORETO, 2002). Vale ressaltar que é muito importante que haja variação dos instrumentos de avaliação para que possam ser investigadas dificuldades e potencialidades nas diferentes habilidades e competências que cada aluno pode apresentar e que o processo de avaliação da aprendizagem não se concentre somente em uma única atividade com questões objetiva, por exemplo (HADJI, 2001). Considerando os postulados de Depresbiteres (2009) no Avaliograma dos últimos anos os instrumentos foram diversificando: resolução de questões com alternativas, relatório de pesquisa, comunicação oral de pesquisa, produção escrita, exposição oral, prova operatória, leituras diversas, produções artísticas, expressões musicais, etc


O Avaliograma também tem o objetivo de se tornar uma ferramenta de trabalho mediadora e processual que propicie uma análise individual e não comparativa, permitindo acompanhar quanto cada aluno avançou através do tempo diante de suas possibilidades, comparando-o somente consigo mesmo e não com outro aluno (HOFFMANN, 2001). Dessa forma, o professor e o estudante podem rever caminhos para garantir o aprendizado. Além disso, por ficar colado no caderno do discente ele pode a qualquer momento consultar o desempenho alcançado em suas atividades no portfólio, saber onde errou e tentar melhorar (CLARK, 2012).  De acordo com Gonçales (2011) o instrumento passou por vários aperfeiçoamentos desde 2009 e a evolução completa e cronológica passo a passo da ferramenta bem como dezenas de comentários de estudantes que foram avaliados com ela podem ser encontrados na íntegra no endereço: http://ticiencias281.blogspot.com.br/2011/08/avaliogramamotivadortarefas.html

  1. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é apresentar a experiência dos alunos e do professor pesquisador após meia década de uso do Avaliograma nas aulas de ciências e biologia.

  1. METODOLOGIA
Foi realizado um diagnostico em toda a escola questionando os alunos sobre aas formas de melhorar a aprendizagem e o cumprimento de prazos das atividades propostas. Posteriormente, nas reuniões de pais, foi por meio de depoimentos espontâneos que os responsáveis expressaram uma preocupação em que se criasse uma forma para que eles pudessem acompanhar mais efetivamente a vida escolar dos filhos de uma forma simples e precisa. Além disso, eles justificaram que poderiam estar identificando o desempenho de seu filho (a) e intervir da maneira adequada. Por isso, que a busca por um novo caminho se iniciou, pois considerando que o aluno tem que ser avaliado.
Assim, foi criada a folha-controle abaixo que recebeu dos próprios alunos o nome de “Avaliograma” nesta passaram-se a ser lançados os prazos para as tarefas, os instrumentos de avaliação, os critérios avaliativos e outras informações com o objetivo de ajudar o aluno a se organizar e conhecer o processo de avaliação.
FIGURA 1. Folha-controle que recebeu dos próprios alunos o nome de “Avaliograma”, Araçatuba, SP, 2016.


Legenda com o significado de cada campo apontado pelas letras de A a E:
A. Tarefa: A pontuação das tarefas mostra o envolvimento do aluno durante toda a etapa, ele pode somar até 20 pontos. Porém, essa pontuação não entra no cálculo da média da etapa sendo apenas um indicativo de sua participação efetiva e suporte para estudante e professor decidirem juntos a média final.
B. Notas bônus: Para o aluno ter mais de 3 instrumentos avaliativos e chance de melhorar suas notas, existem atividades que podem ser dadas durante a etapa e valer nota. Assim ele pode “trocar” uma nota baixa por uma nota bônus. Já o docente tem a liberdade de incluir uma atividade extra sem romper  que foi combinado com o aluno no início do processo avaliativo. Cabe ressaltar que este item destaca-se como o favorito dos alunos nessa metodologia de avaliação.
C. [R/S]: Recuperação (quando tira abaixo de 7,0) ou Substitutiva (quando falta). O aluno não pode usar nenhuma de suas notas bônus antes de fazer a recuperação e nem para recuperar tarefas.
D. Instrumentos de avaliação:  Cada letra grega representa um tipo que foi utilizado durante a etapa. Na FIGURA 1 estão os instrumentos utilizados em 2012 no 8º ano do ensino fundamental na 2ª Etapa que compreendeu os meses de maio, junho, julho e agosto, sendo eles: Delta – Resolução de questões com alternativas, Ômega – Produção de artes visuais (cartaz e fôlder) e Psi – Expressões musicais (jingle e paródia)
E. Autoavaliação:  Nos campos menores que antecedem a nota final naquele instrumento apesar de haver sinal de soma é feita uma análise formativa do processo. Por exemplo: se o aluno tira 7 e depois 9 no mesmo instrumento, é feita uma análise global do desempenho do aluno na Etapa e só depois é dada a nota.
Reconhecimento: Se o aluno tirar tudo 10 nos instrumentos e receber a pontuação máxima em todas as tarefas ele pode escolher o tema com o qual o seu Avaliograma vai ser elaborado. São mostrados alguns modelos abaixo:










  1. RESULTADOS
Entre 2009 e 2015 todos os alunos matriculados no período da manhã utilizaram o Avaliograma e 40 deles foram selecionados para responder questões acerca das vantagens e desvantagens do uso do Google Drive ao final de 5 anos. As respostas da coordenadora pedagógica, da responsável pelo componente curricular de Língua Portuguesa e de 10 deles estudantes encontram-se no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Opinião sobre o uso do Avaliograma, Araçatuba, SP, Brasil, 2009-2015.

Respondente
Sexo
Comentários
Coordenadora Pedagógica

F
O Avaliograma facilita aos alunos e pais acompanharem o processo avaliativo, colocando-os como responsáveis pelo processo ensino-aprendizagem onde seus avanços e dificuldades são considerados de maneira útil.
Professora de Língua Portuguesa
F
Professor gosta muito de caminhos e alternativas para nortear o seu trabalho e sua prática em sala de aula. O Avaliograma é um desses caminhos. Inserir o aluno nesse processo de modo efetivo, o faz mais responsável também. Sou testemunha que esse trabalho dá bons resultados.
Discente 1
F
Em minha opinião o Avaliograma é uma ferramenta em que professor utiliza que nos ajuda, a saber, a nossa nota; e os nomes das tarefas são nomes científicos que também nos ajuda. O interessante é que cada vez mais o Avaliograma vai evoluindo e facilitando os nossos estudos.
Discente 2
F
O Avaliograma, na minha opinião é uma ferramenta ótima, por vários motivos, as tarefas que são tituladas com nomes científicos ajudam-nos a guarda-los. As notas bônus são uma chance do aluno aumentar sua nota, o que é perfeito. E, além disso, ele nos permite, a saber, nossa nota. Além disso, ele vem evoluindo e assim facilitando a compreensão do mesmo.
Discente 3
F
O Avaliograma é uma ótima ferramenta de ensino, pois além de ajudar o aluno a memorizar nomes científicos ele também o deixa ciente de suas notas, o que pode incentivar o mesmo a melhorá-las. Já a nota bônus é uma segunda chance que o aluno tem de evoluir, o mostrado que ele é capaz de conseguir uma nota melhor. Ao longo do tempo a design dele tem ficado muito melhor, o deixando organizado, compreensível e bonito.
Discente 4
F
O Avaliograma é uma forma pratica de avaliação que o professor tem para o desempenho de cada aluno. E serve também para que o aluno veja como esta seu desempenho ao decorrer do ano. Em minha opinião as notas bônus servem para incentivar os alunos a fazer as atividades extras para substituir as ruins.
Discente 5
M
O Avaliograma é um método que o professor utiliza que nos deixa informado em relação as nossas notas, quanto tirei nas avaliações e nas tarefas, onde preciso melhorar além de ter as notas bônus (são atividades extras valendo nota) que é um meio de termos a chance de trocar uma nota baixa por uma mais alta.
Discente 6
F
O Avaliograma é um excelente método que facilita o trabalho a ser feito em ambas as partes; aluno e professor. Essa maneira de nos avaliar acaba gerando em nós responsabilidade com as nossas obrigações e organização. Penso que todos os professores deveriam adotar esse método, pois é ótimo e realmente funciona.
Discente 7
M
O Avaliograma facilita o professor a marcar notas e ao aluno, quanto a ver no que errou e no que precisa melhorar. Também serve para marcar notas bônus para substituir por notas baixas e marcar tarefas dadas na semana.
Discente 8
F
Creio que, o Avaliograma é de longe, a mais bem elaborada forma de controle de notas que já vi. Isso porque, os alunos tem total acesso as suas notas, facilitando para que ele trace uma "estratégia" para mantê-las ou melhorá-las. Tendo ainda, as notas bônus. É uma ótima maneira para que o aluno repare seus "erros" com o próprio esforço. Ele ainda traz aos alunos, a oportunidade de memorizar nomes presentes ao longo das aulas. Ou seja, é uma única ideia que trouxe diversos benefícios para a sala de aula.
Discente 9
M
Usar o Avaliograma é muito bom, pois é uma maneira rápida e fácil de consultar o desempenho do aluno nas provas e tarefas e saber no que ele deve melhorar, qual a nota mínima que ele deve obter para passar de ano, etc. É uma ferramenta muito útil e, na minha opinião, é a mais eficiente já colocada em funcionamento desde que entrei na escola.
Discente 10
M
Em minha opinião o Avaliograma é muito importante porque ele nos mostra as nossas notas e nos mostra onde estamos mal. Ele aborda temas que já estudamos e nos ajuda a relembrar informações passadas. E ele tem coisas boas como, por exemplo: nele tem as notas bônus que substituem as notas ruins.

  1. ANÁLISE E DISCUSSÕES
A coordenadora pedagógica destacou que ele pode facilitar o acompanhamento do processo de aquisição e conhecimento pelos pais e também podem ser valorizados os avanços e dificuldades do estudante avaliado ao longo do período. Da mesma forma, os discentes 1 2, 6, 7, 8 ainda  apontaram que essa metodologia também é facilitadora no que se refere à organização dos estudos, às estratégias de trabalho do professor, à compreensão (por parte dos alunos) dos processos avaliativos e ao trabalho global de todo um período. Esses apontamentos estão em consonância com os postulados de Hoffmann (2001) e Clark (2012) que destacam que os alunos precisam entender como estão sendo avaliados e qual o percurso percorrido para ele ter recebido aquela média final, conceito ou menção. Além disso, à medida que os alunos vão percebendo quais as habilidades que eles têm maior dificuldades eles podem, como argumentou o discente 8: traçar uma estratégia para intervir de maneira autônoma no próprio desempenho, afinal conhecendo previamente o conteúdo a ser trabalhado, os instrumentos a serem utilizados, os critérios que serão considerados e a intenção docente o aluno pode, de fato, ser coautor de sua aprendizagem e avaliação (HADJI, 1994).
A memorização de palavras do conteúdo do componente curricular também foi um ponto muito positivo na opinião dos discentes 2, 3 e 8, pois acabavam espontaneamente criando o hábito de entrar em contato com ela e passaram as utilizar com maior frequência. Por outro lado os discentes 2, 3 e 5 enfatizaram as chances que o uso do Avaliograma pode garantir quando há o interesse do aluno em recuperar uma nota baixa ou melhorar ainda mais uma nota alta (MORETO 2002).
A ludicidade por meio da evolução do layout do Avaliograma foi reconhecida pelo discente 3 e postulada por Gonçales (2011) como um fator que deixava os alunos mais interessados em querer fazer parte.

  1. Conclusões
Diante dessa estratégia de avaliar de maneira continua e lúdica, os alunos manifestaram sua plena satisfação em todos os seus aspectos os quais destacaram: a modernidade do instrumento, a aproximação docente-discente que ele proporciona, a responsabilidade que ele gera, a confiança que o professor deposita no alunado, a facilitação dos estudos, a segunda chance, o acompanhamento de desempenho e muitos outros.

  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAVARSE, Ocimar Munhoz. Desafios da avaliação educacional: ensino e aprendizagem como objetos de avaliação para a igualdade de resultados. Cadernos Cenpec, v. 3, p. 135-153, 2013.

ALMEIDA, F. J. . Avaliação em meio digital: novos espaços e outros tempos. In: Fernando José de Almeida. (Org.). Avaliação educacional em debate: experiências no Brasil e na França. 1ed. São Paulo: Editora Cortez, 2005, v. 1, p. 99-116.

CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Escola como extensão da família ou família como extensão da escola? O dever de casa e as relações família-escola. Revista Brasileira de Educação [online]. 2004, n.25, pp. 94-104. ISSN 1413-2478.

CLARK, Ian. Formative Assessment: Assessment is for self-regulated learning. Educational Psychology Review, v.24, p.205-249, 2012. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/kg0004484463580g/fulltext.pdf. Acesso em: 22 jul. 2012.

DEPRESBITERES, Lea e TAVARES, Marialva Rossi. Diversificar é preciso...instrumentos e técnicas de Avalição da Aprendizagem. São Paulo: Editora Senac, 2009, p.15 a 96.

GONÇALES, J. F. Avaliograma. 13 ago 2011. Disponível em: <http://ticiencias281.blogspot.com/2011/08/avaliogramamotivadortarefas.html>. Acesso em: 21 set 2015

HADJI, Charles. Avaliação as regras do jogo: das intenções aos instrumentos. Porto, Portugal: Porto Editora, 1994. 189p.

HADJI, Charles. Avaliação desmitificada. Porto Alegre. Artemed, 2001.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 19. ed. Porto Alegre: Mediação, 2001.

HOUSE, Ernest. Assumptions underlying evaluation models. American Educational Research Association, v.7, n.3, p.4-12, 1978. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1175968. Acesso em: 26 jul. 2012.

MORETO, Vasco Pedro. Prova, um momento privilegiado de estudos, não um acerto de contas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002

RESENDE, Tânia de Freitas. Entre escolas e famílias: revelações dos deveres de casa. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2008, vol.18, n.40, pp. 385-398. ISSN 0103-863X.

ROBSON, A. S. Avaliação: instrumento de desenvolvimento pedagógico. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 100-109, v. 9.

ROMAO, J. E. . Avaliação Dialógica: desafios e Perspectivas. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2011. v. 1. 160p .

VILLAS BOAS, Beningna Maria de Freitas – Virando a escola pelo avesso por meio da Avaliação. Papirus,2008, p.39-42 e 51-73.


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